27 de julho de 2009

Palavra do Mês: Kanimambo

Inicia-se hoje a série Palavra do Mês. A idéia é escolher a dedo palavras em línguas locais Moçambicanas e explicar um pouco seu significado.

A princípio, palavras em Changane e Ronga (línguas do Sul do país) devem ganhar um pouco mais de destaque, por serem estas as línguas mais ouvidas aqui em Maputo. Que me perdoem desde já os lingüistas: quero apenas compartilhar impressões de quem só conhece tais palavras pela exposição a elas nas veias da cidade. Às pessoas que quiserem ler um pouco mais sobre as línguas moçambicanas, recomendo o site do Instituto Nacional de Estatística. Vamos a isso!

Kanimambo
É a força do agradecimento; obrigad@.
Ainda não consegui saber de que língua vem essa palavra, tantas que são as hipóteses. O que sei é que como poucas, essa palavra se fala e compreende em todo o país.
Ao dar bom dia a uma pessoa na rua, é comum ouvir: "bom dia, kanimambo!", um agradecimento pelo bom dia recebido. Riquíssimo!

Essa palavra foi escolhida. Tinha que ser a primeira, pois um dos sentimentos muito presentes na capoeira é o de agradecimento. Agradecimento aos mestres, às referências, ao saber aprendido, ao saber ensinado. Agradecimento à genealogia de pessoas que, dedicando a vida pela capoeira, oferecem-na a nós. Kanimambo!

Mulheres ganhando a luta contra a violência

Recentemente em Moçambique foi aprovada "por concenso e aclamação" a lei sobre a violência doméstica contra mulheres e crianças. A aprovação da Lei marcou o final da 10a. sessão ordinária da Assembléia da República da presente legislatura (a terceira desde que o país adotou o multipartidarismo). Leia mais aqui.

Há quase dois anos, no Brasil, foi Aprovada a Lei no. 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha. O conteúdo das duas leis, reforçando a pena para agressores e permitindo que terceiros dêem parte em casos de violência doméstica, parece bastante semelhante. Também semelhantes foram algumas reações, clamando que a violência doméstica não atinge somente as mulheres, mas também homens; e que apesar disto, as leis não garantem o mesmo nível de proteção para os homens.

De acordo com Graça Samo, presidente do Fórum Mulher, uma organização respeitada por sua luta pró-igualdade de gênero, "uma lei não se aprova de um dia para outro. Por isso, vamos continuar a lutar para melhorar os direitos das mulheres".

Quem mora em Moçambique, sabe da importância desta lei. Vamos colaborar com a luta de tantas mulheres, dando a conhecer a lei e suas consequências.

O sábio capoeirista também há de fazer da capoeira um instrumento de um mundo mais justo e igual. Todos conhecem aquela frase do saudoso mestre Pastinha:

"Capoeira é pra homem, menino e mulher; só não aprende quem não quer."

20 de julho de 2009

O berimbau, segundo Baden Powell

Ouve-se que o nome "berimbau" foi uma transformação do nome "biriba", e que portanto a madeira dá nome ao instrumento. Quem já ouviu a música Berimbau, do Baden Powel e Vinícius de Moraes, pensa diferente...





O nome vem do próprio som do instrumento. tch-tch-tom-dim vira be-rim-bau. Que legal. Salve Baden!

19 de julho de 2009

Clip do Nzinga



Um cheirinho das coisas que o Nzinga faz, baseado em faixas do CD Grupo Nzinga - Capoeira Angola. Atenção às aleotrias do Poloca no final. Quebra!

14 de julho de 2009

Nzinga 14 anos

Como parte das comemorações dos 14 aninhos do grupo Nzinga, houve um grande evento em Sampa, que juntou os três mestres de uma só vez. Haja dendê!


Também pudera: Sampa abriga o primeira sementinha do Nzinga, quando a Mestra Janja veio à cidade para fazer o seu mestrado acadêmico. Pouco depois, chegaram Poloca e Paulinha pra consolidar de vez a coisa. Desde 2005, porém, todos eles retornaram a Salvador, e curtem os ventos soteropolitanos.

Mas a semente vingou: o Nzinga em Sampa tem um trabalho social consolidado na região da Vila Sônia; e núcleos em Pinheiros e Tucuruvi. Para além dos demais núcleos, que serão apresentados "pouco-pouco", como dizem os moçambicanos.

Muitas felicidades, muitos anos de vida! Olha só a programação que rolou em Sampa:

Mestra Janja na Alemanha













A Mestra Janja em Marburg, na Alemanha, ensinando de tudo um muito pro pessoal do grupo Nzinga de lá. Salve pessoal daí! Uma saudade danada.

E pros de cá, é juntar o ngunzo pra Mestra chegar aqui, nas beiras do Índico.

11 de julho de 2009

Nzingueiros Maputenses

Primeiro, os primeiros passos... (da esq. p/ dir.) Fernandinho, Zé, Vuga, Mitó, Idelson, Dinha, Otávio, Agnelo (sentado).

E toca a andar! Seguindo o caminho...

Aloiso, Nil, Alberto, Zafanias, Sofia, Dinha, Junior, Arlindo, Mitó, Idelson, Vuga, Otávio e eu.

Ao fundo, nosso baobab, que nunca falta em um núcleo do Nzinga. Esse foi rabiscado pelo Zafanias, e está (sempre) em processo de construção!

Os grupos de Maputo

Como é de se esperar, a maioria esmagadora dos grupos de capoeira em Maputo é de capoeira regional. No restante do país, até onde eu saiba, a capoeira regional é a única conhecida.

Os guerreiros angoleiros estão em três grupos: no Nzinga (é nóis!), na FICA-Moçambique (orientado pelo Mestre Jurandir, coordenado pelo Isaac e pelo Dunguinha) e no Grupo Mar Azul (orientado pelo Mestre Joãozinho da Figueira e coordenado por Antonio, Saci e Saló).

Dos regionais, aí vai uma lista tentativa e inacabada:

- Ginga de Maputo (Mestra Marina, hoje associado à FCERJ - Mestre Bogado)
- Arte Viva (Prof. Santos)
- Mando dos Palmares (associado à FCERJ)
- Capoeira Brasil (Mestre Cabeça, coordenação Graduada Moçambique)
- Grupo de Capoeira Angola Palmares (Mestre Polegar, coordenado por Ivandro)
- Folha Verde
- Gunga de Angola
- Céu Limpo
- Libertação
- Cabaça Dourada
- Noite & Luar

Oficiais e clandestinos

Maputo reúne a maior concentração de capoeiristas de Moçambique. Alguns coletivos de capoeira são conhecidos em outras províncias (cidades de Inhambane, Quelimane e Nampula, por exemplo) mas o grosso mesmo está aqui na capital.

Os grupos estão divididos em duas grandes categorias: os :"oficiais" e os "clandestinos". Não faço idéia de quem começou essa enfadonha classificação, mas eu sei que pegou: membros dos tais grupos clandestinos já chegaram a se apresentar no estilo: "olá, eu sou fulano, do grupo X, um grupo clandestino do aeroporto".

Pelo que pude entender, os grupos "oficiais" são aqueles mais estabelecidos, que de uma forma ou de outra têm referências diretas com mestres ou capoeiristas brasileiros. Já os "clandestinos" são geralmente dissidências dos oficiais, e se encontram nas áreas periféricas da cidade.

2 de julho de 2009

Capoeira em Maputo - gênese

Conta-se que tudo começou com a Mestra Marina, que iniciou um grupo na cidade, então chamado Beleza de Maputo. Há uns dois meses, tive a oportunidade de participar nos festejos de 10 anos desse grupo (há muito rebatizado) Ginga de Maputo.

A roda solene aconteceu no INEF - Instituto Nacional de Educação Física, que foi o primeiro local de treinos do Ginga. Depois de rodar outros espaços da cidade, incluindo uma sala no Hospital Central, o grupo retornou à casa, estando há um bom tempo baseado no INEF novamente.

O evento foi muito especial, pois marcou o retorno da Mestra Marina ao mundo da capoeira. Ela encontrava-se afastada do seu grupo e dos capoeiristas. Foi emocionante ver e ouvir as sábias palavras daquela que plantou a primeira semente da capoeira por aqui. E foi emocionante ver o carinho com que os atuais líderes do grupo tratavam-na, sempre numa atitude de respeito, reverência e agradecimento.

Biriba é pau pra fazer berimbau

Berimbaus de biriba (principalmente aqueles que foram feitos e casados por nossos mais velhos) são os berimbaus por excelência.

Para entender a complexidade da relação berimbau-biriba, basta imaginar uma outra madeira qualquer que, feita em berimbau, produza um som perfeito assim como o canto das sereias, daqueles de atrair os ouvidos mais treinados. Imaginou? Pronto. Agora coloque, ao lado desse berimbau de madeira imaginária, um berimbau de biriba. O melhor destes dois berimbaus, pode ter certeza, é o de biriba. Pois é na biriba que foi escrita, de certa forma, a história da capoeira. Um berimbau de biriba vai sempre ser o melhor berimbau.

Em tempo: biriba é uma madeira antes abundante na região nordeste do Brasil, que se encontra em extinção. Principal motivo? Uns dizem ser que a maioria dos cabos de vassoura rústica, muito vendidas na região, são feitas de biriba. Outros dizem ser a produção desenfreada de berimbaus, que em sua maioria é exportada. Um fabricante de berimbaus do Mercado Modelo (Salvador) uma vez me disse que, por semana, chegava a produzir mais de 500 vergas. Assustador! Mais informações sobre a biriba aqui.

Information about biriba in english
here.

Um presentinho

Esse mes o Nzinga Moçambique faz um ano de vida. Quer dizer, a contar desde lá do começo, da semente e de antes, nem sei dizer quão velhos já somos. Mas do que começamos a fazer juntos como uma comunidade, faz um ano que estamos por cá. Esse blog é, entre outros (até mais gostosos, acredite!) um presente pra o núcleo. Uma forma de nos jogarmos na roda grande da vida e dessa internet mundo afora.